Dilema do professor: quando a educação digital atrapalha a educação

A Professora Ana Vasconcelos conta como encara a competição entre os aparelhos eletrônicos e a atenção dos alunos

ana vasconcelosHá mais ou menos 30 anos, professores dos ensinos básico e médio, principalmente das áreas de Exatas, preocupavam-se se os alunos haviam resolvido problemas de cálculos de acordo com os seus ensinamentos ou se tinham usado a calculadora. Nessa época, apareceram relógios digitais que não só resolviam a tabuada, mas também algumas equações.

Com isso, os mestres proibiam tais aparelhos nas aulas e exames. Por outro lado, as calculadoras financeiras sempre foram um material didático obrigatório nos cursos de Exatas no ensino superior. No entanto, em outros cursos, a educação digital está se tornando um exemplo de “falta de educação” quando smartphones, tablets e e-books “disputam” a atenção dos estudantes com o professor em sala de aula.

O fato tem perturbado docentes em todo o país, já que, nos cursos de graduação e pós-graduação, espera-se que a classe discente possua uma norma de conduta ética em que não cabe ser chamada atenção pelo mestre.

Por isso, o Portal Professornews entrevistou a jornalista Ana Vasconcelos, da Eco Editorial, e professora de pós-graduação de Jornalismo das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), sobre suas experiências no assunto.

Professornews: Como fazer o aluno entender que a sala de aula não é o melhor lugar para se consultar a internet ou atender ao telefone celular?

Ana Vasconcelos: Sempre nas primeiras aulas de cada curso, tento combinar com os alunos que mantenham seus aparelhos celulares no vibratório, e em caso de extrema necessidade, que saiam para atender. Combinar é o melhor meio de dialogar com os alunos, de forma pacífica. Vivemos em outros tempos, há a necessidade de se ter o celular, não adianta proibir.

Professornews: E quando o caso envolve o uso de tablets, e-books e smartphones?

Ana Vasconcelos: Se o aluno estiver fazendo isso de forma isolada, se presta atenção e faz três, quatro coisas ao mesmo tempo, problema dele. Mas, se com isso desviar a atenção dos demais colegas, considero um desrespeito a mim. Não tenho pudor em chamar-lhe a atenção. É necessário resolver o problema na hora e dizer ao aluno que em casa ele terá toda a liberdade para consultar a internet ou qualquer outro conteúdo.

Professornews: Existem alunos que, mesmo quando alertados, insistem em desafiar o professor. Isso, geralmente acontece em turmas dos ensinos básico e médio; às vezes, acontece no ensino superior, o que não deveria; afinal, é uma turma de adultos...

Ana Vasconcelos: O estudante do ensino superior não difere dos demais. Se atrapalha a aula, eu paro. Tenho um estilo de tentar fazer umas “caras” de que não estou gostando do que estou vendo. Se não der certo, dou bronca. Não gosto de chamar atenção na frente dos outros, nem de envergonhar ninguém. Mas costumo deixar recados em trabalhos e provas.

Professornews: A senhora acha que, por serem turmas de Comunicação Social, precisam estar sempre ligados ao que acontece no mundo ou é apenas uma mudança dos novos tempos?

Ana Vasconcelos: Nossa geração pertence à era analógica e nossas necessidades eram outras. Hoje, os alunos acham que precisam estar o tempo todo conferindo e-mails e suas redes sociais. Quando nós professores reclamamos disso, porque fazem em aula, não pedem desculpas, pois isso está tão preso à realidade deles, que acham um absurdo serem reprimidos por isso.

Professornews: Na sua época de aluna, era muito diferente?

Ana Vasconcelos: Ah, muito diferente. Quando não queríamos prestar atenção nas aulas, saíamos da sala ou escrevíamos bilhetes e trocávamos entre nós. Hoje, os alunos estão perdendo o hábito de conversar, passam muito tempo um ao lado do outro, mas ficam horas trocando recados nas redes sociais. Já imaginou o professor reclamando “Olha a conversa”, com o aluno com um aparelho nas mãos?

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