Educação em bloco de notas

Sozinhos e sem metodologia, os computadores de última geração são como uma sala de aula sem professor

Manoel Dantas (*)

101px-Gigabyte M912V as NetbookImagine se o seu computador não tivesse um programa qualquer; estivesse sem os recursos de escrever textos, montar planilhas, fazer apresentações, visualizar fotos e vídeos; sem a possibilidade de se comunicar com seus amigos e familiares; de se atualizar lendo notícias de qualquer ponto do planeta em tempo real.

Que sentido haveria para os equipamentos de última geração, com altíssima velocidade, se não fosse possível utilizá-los da melhor maneira e com todas as possibilidades de exploração? Logicamente, o equipamento ficaria obsoleto, talvez até servisse como móvel em casa, peça futurística ou coisa que o valha, mas não seria utilizado para a finalidade pela qual foi criado.

Esse cenário, apesar de pouco provável em nossas residências, é bastante comum em escolas brasileiras, públicas e particulares. Nunca tivemos um percentual tão grande de computadores nas dependências dos colégios, e essa informação é comprovada por uma pesquisa feita em todas as regiões do país, publicada nos últimos meses pelo Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br), órgão ligado à Unesco. 99% dos quase 1,6 mil professores e mais de 8,3 mil alunos consultados revelaram que há nas suas escolas pelo menos um computador disponível para utilização.

A mesma pesquisa ainda traz outro dado interessante: 89% das mesmas escolas que têm computador, têm internet, mesmo que às vezes com certas dificuldades de conexão. Ou seja, há equipamento e há condição disponível para o contato com os mais diversos recursos que possibilitam avanços na aprendizagem dos estudantes e para o apoio ao professor. Porém, ficam algumas dúvidas: o que e de que forma estudantes e professores têm utilizado os equipamentos presentes em quase todas as escolas brasileiras? Os conteúdos são bons? Estão alinhados com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)? Estão de acordo com as diretrizes do MEC? São utilizados para preparar alunos para um mundo de trabalho, que exige pessoas curiosas, capazes de descobrir coisas por si mesmas e preparadas para usar com eficiência e rapidez as tecnologias da informação e da comunicação?

Esses questionamentos são necessários para sabermos até que ponto as tecnologias em educação estão impactando a aprendizagem. Afinal, a cada dia, novos e modernos recursos surgem, chegam às mãos dos estudantes e professores em suas casas e, certamente, podem ser grandes aliados na educação. Porém, para isso, é preciso ferramentas e programas adequados, que tenham sido desenvolvidos não só a parte tecnológica, mas, sobretudo, a pedagógica. Além de apoiarem o ensino, eles devem ser atrativos, com jogos, quizzes, possibilidades de interação, de colaboração, de autoria, onde todos participem da construção do saber e o papel do professor seja o de intermediar esse processo. 

Felizmente, já estamos observando a estrutura cada vez mais consolidada nas escolas. Por outro lado, o aprendizado de nossas crianças e jovens só irá acontecer de maneira plena quando os gestores educacionais, os pais e toda a comunidade escolar se conscientizarem de que os computadores da sala de informática são apenas meios de trabalho. Sozinhos e sem metodologia, eles são como uma sala de aula sem professor. Podem até ser de última geração, com os melhores requisitos técnicos, mas talvez estejam sendo utilizados de maneira pouco eficiente, para copiar textos encontrados na web e colá-los no “Bloco de Notas”.

 

(*) Manoel Dantas é diretor geral da Clickideia Tecnologia em Educação

 

Adicionar comentário


Conteúdo Relacionado