Biblioteca: uma máxima que (quase) ninguém dá a mínima

Precisamos resgatar o verdadeiro sentido e o valor cultural das bibliotecas escolares

Marcos Pereira dos Santos (*)

prof-marcos-pereira webBiblioteca! Quem de nós, ao ter passado um período de tempo de nossas vidas pelos bancos escolares, não tem lembranças, boas ou ruins, da biblioteca de sua escola?

Quando se fala em biblioteca, a primeira ideia que nos vem à mente é a de um local repleto de muitos livros; o que não deixa de ser uma verdade. Todavia, em grande parte das atuais bibliotecas escolares não encontramos somente livros, mas também enciclopédias, almanaques, anuários estatísticos, revistas, gibis, vídeos didáticos, jornais, apostilas entre outras coisas, tais como mapas, computadores, mesas, cadeiras, arquivos, retroprojetor, máquina de datilografia etc. Não parece estranho que numa biblioteca possamos encontrar quase de tudo um pouco? Também acredito que sim, mas isso é assunto para uma reflexão futura.

Sem a pretensão de entrar no mérito da questão, o fato é que muitos ex-estudantes carregam consigo certo “trauma” em relação à biblioteca, pois para eles, a mesma se configurava simplesmente como um espaço da escola que servia apenas para ficar de castigo, realizar alguma breve leitura obrigatória imposta pelo professor, efetuar uma “pesquisa” de caráter avaliativo solicitada em sala de aula (a qual não passava de mera cópia literal de longos trechos de livros) ou até mesmo um lugar para brincar de esconde-esconde na hora do recreio, escapar das aulas de Educação Física, e fazer outras coisas mais...

Deixando de lado esse sentimento traumático acerca da biblioteca escolar, entendemos que ela deve ser vista como uma espécie de “laboratório”, no qual, além de se efetuar leituras e pesquisas, também se estuda; se ensina; se aprende; se (re)constrói conhecimentos; se fazem novos amigos; se compartilham experiências; se dialoga; se problematizam questões para investigação, reflexão, interpretação e análise crítica; entre outras coisas do gênero. Em outras palavras, isso significa dizer que a biblioteca escolar é, por excelência, um espaço de vida, de convivência coletiva entre professores e alunos; tendo em vista a apreensão de novos saberes e o desenvolvimento intelectual, objetivando assim a melhoria da qualidade de vida pessoal, escolar e profissional.

Com o advento das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) e o consequente aparecimento das denominadas “bibliotecas eletrônicas” ou “bibliotecas virtuais”, observa-se que a biblioteca de nossas escolas tem sido um lugar pouquíssimo frequentado por parte de docentes e discentes, fato este talvez decorrente da concepção ilusória de que (quase) todo conhecimento científico pode ser encontrado num site de pesquisa.

É preciso ficar alerta, pois as páginas virtuais contidas na rede internet contêm, salvo algumas raras exceções, apenas informações sobre inúmeras temáticas, não se constituindo, necessariamente, em conhecimento ou saber de cunho científico. Portanto, faz-se extremamente necessário que as tecnologias on-line sejam utilizadas com certa dose de perspicácia, ponderação, seletividade, criticidade e análise reflexiva; sem, contudo, relegarmos ao segundo plano as bibliotecas públicas e escolares, as quais necessitam dispor de um amplo e atualizado acervo. Nada substitui o prazer de folhear, manualmente, as páginas de um livro impresso e dele extrair o máximo de conhecimento necessário à nossa aprendizagem, objetivando a construção de uma sociedade ideal: mais humana, ética, justa, democrática e equânime.

Que possamos, o mais rápido possível e com o auxílio de autoridades governamentais, pesquisadores em educação, bibliotecários, editores de livros, escritores, educadores, professores, alunos e sociedade em geral, resgatar o verdadeiro sentido e o valor cultural das bibliotecas escolares, pois elas fazem parte não só da cultura escolar, mas do patrimônio histórico da humanidade que precisa ser mais e melhor preservado, valorizado e utilizado.

É preciso remover a poeira, não só dos livros fadados ao (quase) completo abandono nas bibliotecas públicas e escolares, mas também dos olhos de todos aqueles que ainda não conseguem enxergar a biblioteca como um locus educativo, de lazer cultural, de re-descoberta, de desenvolvimento intelectual e de abertura de novos horizontes. Asseguramos que a biblioteca escolar é, pois, um mundo mágico que vale a pena usufruir, possibilitando-nos aprendizagens incríveis e interessantes. Façamos a experiência!

 

(*) Marcos Pereira dos Santos é doutorando e mestre em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Escritor, poeta e professor adjunto do Centro de Ensino Superior dos Campos Gerais (CESCAGE) e da Faculdade Sagrada Família (FASF), junto a cursos de graduação e pós-graduação lato sensu, em Ponta Grossa/PR. Endereço eletrônico: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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