Pais nas férias de julho

O período é apropriado para suspender a terceirização dos filhos

Tania Fontolan (*)

tania fontolan sistema angloPaz. Essa é a palavra que muitos de nós, adultos, desejamos quando pensamos em nossas férias, seja ao procurar por uma viagem, ou mesmo se ficarmos em nossas residências.

Sentimos uma certa necessidade de recarregar as energias nesse período, espairecer a mente para retomarmos com mais força e prontos para encarar mais um ano de trabalho. Isso não é exclusividade de quem vive nos grandes centros, mas de qualquer pessoa que tenha os dias agitados e veja as férias como um momento de diminuir o ritmo da atividade física e mental.

Certamente, paz, recarregar as energias e diminuir o ritmo da atividade não são as aspirações mais desejadas dos nossos filhos quando pensam nas férias deles, seja no final do ano ou agora, em julho.

No atual momento do ano, porém, o clima não é de férias “generalizadas”, uma vez que as escolas costumam se manter ativas, inclusive para oferecer cursos e opções de atividades para abrigar alguns desses estudantes (no Brasil, de acordo com o último Censo, são 50 milhões de crianças e jovens na Educação Básica). Muitas dessas escolas oferecem passeios em parques, visitas a teatros, viagens, acampamentos e, sobretudo, dentro de suas dependências, cursos de aperfeiçoamento, atividades esportivas, entre outra série de atividades interessantes e representativas, úteis para a formação dos estudantes. 

Os pais, por sua vez, necessitam continuar trabalhando e, ao mesmo tempo, cuidar do tempo em que seus filhos estarão sob sua atenção e quando não estiverem presentes. Isso, sob um olhar prático, num aspecto logístico. Basta perguntar para qualquer criança o que ela deseja nas suas férias: somente ficar com os amigos da escola ou também curtir os pais? E esses pais, o que têm feito para se manter junto aos filhos?

Uma pesquisa recente nos EUA, feita pela Universidade de Washington, revelou que 44% dos pais submetidos à prática de cuidar dos filhos, enquanto utilizavam smartphones, não conseguiram responder aos pedidos das crianças. Um claro exemplo de como estar ausente em corpo presente. Um detalhe importante na pesquisa: apenas 28% deles utilizavam esses equipamentos para trabalhar, mostrando que, mesmo em um momento descontraído, dividir a atenção dos filhos com um celular na mão quer dizer, praticamente, não dar atenção à criança.

Isso mostra o quanto às vezes podemos estar sendo negligentes, ainda que bem intencionados, com a educação de nossos filhos. Educar não é apenas dar estrutura e pagar cursos e passeios. É, acima de tudo, dar toda a sua atenção, participar, brincar com eles. 

Por isso, agora não é hora de recarregar as energias físicas, de buscar calmaria, paz. É hora de nos doarmos um pouco mais, de sermos um pouco mais pais de nossos filhos, de tentar terceirizar o mínimo possível os cuidados para com eles, de brincar e se divertir, de sermos plenos enquanto estivermos juntos. 

(*) Tania Fontolan é antropóloga, historiadora, especialista em administração escolar e, atualmente, é diretora do Sistema Anglo de Ensino da Somos Educação.

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