Encontros Esportivos contou com a presença de Reginaldo Leme

Jornalista respondeu perguntas sobre automobilismo, eventos esportivos e comunicação

reginaldo lemeGEDC3632Mais de 100 pessoas, entre profissionais, estudantes e professores de Comunicação, estiveram presentes na Associação de Cronistas Esportivos do Estado de São Paulo (Aceesp), na última segunda-feira (4), para o ciclo de palestras Encontros Esportivos, com um dos jornalistas mais renomados do meio esportivo do país, o comentarista da Rede Globo de Televisão, Reginaldo Leme.

Com 41 anos de experiência em Fórmula 1, o repórter foi um dos pioneiros na cobertura do automobilismo nacional e internacional.

Leme é uma sumidade no assunto, responsável por furos de reportagens inesquecíveis pelos fãs do esporte e matérias exclusivas com ídolos da velocidade, como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Jackie Stewart, Alain Prost, Michael Schumacher, Fernando Alonso, Ayrton Senna e muitos outros.

Além de inúmeras histórias sobre os astros das corridas e fatos inusitados do jornalismo, Reginaldo Leme contou exemplos de sua perspicácia como jornalista e como isso o ajudou a conseguir boas matérias. Num bate-papo descontraído com o público, Reginaldo Leme também concedeu uma entrevista ao Portal Professornews.

Professornews: Nos campeonatos de futebol em todo o país, sejam os Estaduais, Brasileiros ou Copa Libertadores, existe uma falta de organização da nossa imprensa, por causa da nossa cultura ou até mesmo de assessores de imprensa que não conseguem controlar a situação. Todos os jornalistas se atropelam numa coletiva. Estamos às portas de sediar uma Copa do Mundo e uma Olimpíada. Você acha que essa desorganização vá se repetir nesses eventos?

reginaldo lemeGEDC3643Reginaldo Leme: Não. Essa é uma questão interessante, pois quando o Brasil sediar essas competições importantes, todo know-how do exterior será trazido para cá. Não há como a imprensa se portar mal nessas situações. Você falou sobre o assessor de imprensa, e é incrível como esse profissional se tornou importante, porque cabe a ele não só organizar a imprensa e os entrevistados numa coletiva, como também criar pautas interessantes que fujam do factual criado pelo resto da imprensa.

Professornews: Em sua palestra, você comentou que no início da Fórmula 1, residiu no exterior. Comentou também que é necessário dominar um idioma para ser correspondente internacional. Hoje, as faculdades de Comunicação estão investindo mais em disciplinas que requerem o inglês e outras línguas. Mas isso deveria ser um interesse acadêmico ou partir do próprio aspirante a jornalista?

Reginaldo Leme: Quando fui para a Europa, meu inglês era de curso secundário, e é uma língua que tenho certa dificuldade, até hoje. Depois de tantos anos cobrindo a Fórmula 1, tenho mais domínio do francês e do italiano do que do inglês. Mas o interesse pelo aprendizado tem sempre que partir do profissional. Sempre aconselho aos mais novos que aprendam o inglês. A concorrência no jornalismo é grande, e quanto mais conhecimento o profissional tiver, mais lhe será confiado trabalhos importantes.

Professornews: Reginaldo, você começou no jornal Estado de S. Paulo e depois foi para a TV. Você disse que para trabalhar na cobertura da Fórmula 1 por tantos anos ou em quaisquer outros assuntos do meio jornalístico é preciso gostar muito do assunto. Acontece que, em muitos casos, o mercado acaba “empurrando” o profissional para outras mídias ou assuntos que não são exatamente de sua preferência. Como lidar com isso, sem deixar a profissão?

Reginaldo Leme: Primeiro de tudo, tem que gostar de ser jornalista, amar a profissão. Tem que ter um senso de responsabilidade do que está fazendo, para oferecer ao público a informação do jeito que ocorreu ou está ocorrendo. Eu mesmo não gostei nem um pouco de cobrir a tragédia do Estádio de Heysel, mas precisei fazer e fiz da melhor maneira possível. Eu confesso que sou um pouco lento no meu texto e, por isso, reviso-o 40 vezes para saber se está perfeito. Sou muito perfeccionista neste aspecto. Certa vez, vi uma entrevista com o Orlando Duarte, e ele disse que “escrever é um parto”. Fiquei feliz em saber que eu não era o único a sentir assim.


No encontro, o Reginaldo Leme falou também sobre Ayrton Senna e Nelsinho Piquet.

Ayrton Senna e o futuro dos pilotos brasileiros de Fórmula 1

Reginaldo Leme: Ayrton era uma pessoa fantástica, um grande piloto. Na minha opinião, o melhor que o mundo já produziu. Se me perguntassem isso há três anos, eu diria que Senna estaria empatado com Michael Schumacher, mas hoje não penso assim. Senna foi, sem dúvida, o melhor. Tinha uma obstinação pela vitória, que contrastava com o modo introspectivo dele. Acredito que seu único defeito era revanchismo. Se ele discordasse da opinião de um jornalista sobre sua performance, ele ficava muito irritado e passava a ignorá-lo nas demais entrevistas. Certa vez, ele discutiu comigo por não concordar com o que divulguei sobre uma corrida. Tempos depois, ele percebeu que estava errado e me pediu desculpas. Estávamos retomando uma amizade que ficaria mais forte do que antes, mas, infelizmente, seis meses depois, houve a tragédia de sua morte. É um fato que me entristece muito.

Um dia, o Brasil terá outro piloto de ponta que possa brigar por títulos na Fórmula 1. Atualmente, nossas esperanças estão depositadas no Felipe Massa, mas a Ferrari parece sempre voltada ao Alonso, isso porque aquele espanhol é bom mesmo, pode ser até que um dia se equipare ao próprio Senna. Para Felipe ter uma chance de ser campeão, ele tem que ter um carro que seja tão bom quanto o de seu companheiro e contar com esses acasos do esporte e fazer mais pontos que Alonso. Aí, a Ferrari passaria a dar-lhe mais atenção para que ele possa levantar um campeonato.

Nelson Piquet e furos de reportagem

Reginaldo Leme: Quando aconteceu aquele episódio do Nelsinho Piquet, de ter provocado o acidente em Cingapura (em 2008, Nelsinho Piquet teria provocado um acidente a mando da Renault para beneficiar Fernando Alonso, no fim da prova), Nelson Piquet (o pai), que estava afastado da Fórmula 1, deu uma entrevista coletiva para comentar sobre a carreira do filho, mas ao informar que falaria sobre esse assunto posteriormente, os demais jornalistas perderam o interesse e deixaram a sala de imprensa. Aproveitei e fui tomar um café com Piquet e perguntei o tal motivo, e ele me confidenciou que Nelsinho iria levar o caso para a FIA. No fim, Piquet me diz: “Mas você não vai publicar isso agora”. Poxa, eu com uma história daquela nas mãos e sem poder publicar. Perguntei ao Piquet quando poderia publicar e ele me pediu paciência, e disse que eu seria o jornalista que daria isso em primeira mão, não só no Brasil, mas também no mundo. Meses depois, ele me liga e diz: “Olha, prepare a matéria, porque a FIA já começou uma investigação e isso pode vazar”. Passei a noite inteira produzindo o texto e divulguei durante a transmissão de uma corrida, num furo de reportagem que causou um furor na Fórmula 1. Muitos jornalistas vieram até mim, muita gente pensou que fora o Felipe Massa que tinha me dito, mas mantive a postura de não falar muito; afinal, a matéria era minha. É isso que eu digo sobre furos de reportagem. Não basta a sorte ou inteligência para descobrir uma história, mas também a confiança das pessoas que atuam no seu ambiente de trabalho, e o Piquet me confidenciou isso por ter confiança no meu trabalho.

Fotos e reportagem: Alexandre César

Comentários   

0 # Du Soares 03-05-2014 13:20
Como faço para contatar Reginaldo Leme para palestras?
Responder | Reportar ao administrador
0 # Equipe ProfNews 04-05-2014 17:51
Prezada Leitora,

Pode tentar via:
twitter.com/RegiLeme
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