Prof. Ernani Terra fala sobre a resistência para implantação do acordo ortográfico

A importância de mudanças para melhor entendimento dos países lusófonos

ernani terraO novo acordo ortográfico, assinado pelos países de Língua Portuguesa em 2008, ainda gera controvérsias não só para a população, como para a classe acadêmica.

Estudiosos do idioma estão preocupados com a utilização das palavras que recentemente perderam acentos, hifens e trema. Uma das principais argumentações dos críticos ao acordo, como professores, escritores, profissionais das Letras e interessados pela língua, é o temor de que a gramática e a fonética percam a identidade de suas respectivas nações.

No entanto, há outros que defendem a mudança, como é o caso do professor doutor Ernani Terra, que leciona Língua Portuguesa na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Num bate-papo descontraído, Ernani recebeu a equipe do Professornews e esclareceu algumas dúvidas sobre o acordo ortográfico.

Professornews: Professor, qual o motivo para o surgimento do novo acordo ortográfico? O senhor acredita que ele foi realmente necessário?

Professor Ernani Terra: Antes de responder a essa questão, esclareça-se que as mudanças foram resultado de um acordo entre os países falantes do português e não uma reforma ortográfica. O acordo ortográfico é uma “guerra de cem anos”, pois desde 1911 tenta-se um acordo para unificar a ortografia da língua. Houve uma segunda tentativa em 1939, sem sucesso, e uma terceira, em 1945, também sem resultado. Há duas ortografias oficiais para a língua portuguesa, por isso pensou-se num acordo para que haja uma única ortografia, facilitando a redação de documentos oficiais, que antes do acordo deviam ser escritos em duas ortografias diferentes.

Quanto à necessidade, necessário não seria a melhor palavra, mas o acordo é bem- vindo se considerarmos a facilidade em se ter uma única forma oficial de grafia para os falantes de uma mesma língua.

Professornews: Por que o senhor acha que as outras nações, principalmente Portugal, estão resistentes quanto a aplicação do novo acordo?

Ernani Terra: Para o Brasil, as mudanças foram pequenas em comparação a outros países que têm o Português como língua oficial. Além disso, há uma postura nacionalista dos portugueses, pois eles se consideram “donos da língua”; nós apenas a “emprestamos” deles. O fato de o Brasil ter liderado o acordo faz com que os intelectuais lusitanos sintam-se desprestigiados, e esse pode ser outro fator que, possivelmente, responda a essa questão.

Professornews: Como as mudanças devem afetar o aprendizado de língua portuguesa nas instituições de ensino? E como os professores podem lidar com elas?

Ernani Terra: A língua é muito mais do que a ortografia, o professor deve estar mais envolvido com a língua do que somente com a ortografia. Para os estudantes, mesmo os de graduação, a assimilação dessas regras será natural. Fica mais difícil para os já formados se adaptarem às mudanças.

Professornews: Qual a melhor maneira de assimilar as novas regras? O senhor recomenda alguma publicação?

Ernani Terra: A melhor maneira para a assimilação é o exercício. Quanto ao hífen, em particular, a assimilação é dificílima, mas sugiro a consulta no site da Academia Brasileira de Letras. Uma publicação que recomendo é De Acordo com o Acordo: as novas regras da ortografia, de minha autoria.

(*) Ernani Terra é doutor em Língua Portuguesa pela PUC-SP, professor universitário e autor de diversas obras nas áreas de Língua Portuguesa, Literatura e Produção de Textos.

Tire suas dúvidas do novo acordo ortográfico no site do Professor Ernani Terra.

Texto: Alexandre César e Suzana Ziareski

Foto: Cortesia do professor Ernani Terra

Comentários   

0 # Helenilson Pereira da Silva 20-12-2013 11:46
O Prof Ernani Terra tem experiência no ensino da lingua portuguesa para o ensino fundamental e ensino médio, também para concursos e vestibulares. Suas publicações sempre trouxeram uma linguagem fácil. Realmente aprendemos muito com publicações que trazem as informações de forma clara.
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0 # Helenilson Pereira da Silva 07-10-2014 19:00
Realmente ninguém ensina ortografia isoladamente, mas desde que o texto oficial do Acordo Ortográfico foi elaborado por apenas dois especialistas: Antônio Houaiss (Brasil) e João Malaca Casteleiro (Portugal), deveria ter sido revisado antes da assinatura. Até 2008, ninguém fez uma revisão do texto oficial, e os especialistas foram deixados fora do debate. Assim não foram consultadas a Academia Brasileira de Filologia, fundada em 1944; a Associação Brasileira de Linguística, fundada em 1969. A Associação Portuguesa de Linguística, fundada em 1984, fez um trabalho de análise em 2005, e reprovou o texto do Acordo. No entanto, não foi levada a sério. O Instituto de Linguística Teórica e Computacional, fundado em 1988, também não foi consultado, entretanto, acabou laçando o VOP em 2011. A Associação de Linguística Aplicada do Brasil, fundada em 1990, não foi consultada. Por isso, há uma equipe coordenada pelo Prof. Ernani Pimentel e o Professor Pasquale Cipro Neto que pretendem simplificar a ortografia, isso a pedido do Senado Federal.
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