Minha máquina de calcular nova, meus filhos e velhos conceitos

O tempo passa e temos que nos adaptar?

Por Manoel Henrique Campos Botelho (*)

Um dia, esqueci em casa de um amigo, minha máquina de calcular e tive que comprar uma para reunião com cliente. Como estava na Rua São Bento (na capital paulistana), comprei uma que tinha, além das quatro operações, funções trigonométricas e calculava Yx, o que significa que ela fazia todas as operações de meu interesse.

Como era barato e o aspecto da máquina era pobre, decidi fazer um teste antes de comprá-lo. Fiz uma operação de somar, de subtrair, de dividir e multiplicar. Tudo em ordem. Aí, testei "sen 0" que resultou zero, "cos 0" que resultou um e "tangente de 0" que resultou zero. Logo, a máquina parecia estar correta. Com essa máquina, fiz a reunião, negociei prazo, formas de pagamentos e calculei juros, e acho que foi uma boa reunião.

No caminho de volta e dentro do metrô (sou ardoroso fã desse meio de transporte e o uso ao máximo) vim brincando e mexendo com todos os botões da máquina. Para minha surpresa, a máquina que eu testara começou a dar resultados diferentes do previsto. Por exemplo: tang 45 = 0,85. Esse fato muito me estranhou, pois antigamente "tang 45" era igual a 1.

Chegando em casa, falei com meus filhos, um formando de Engenharia e outro formando de Direito. Eles estavam sem tempo para me atender (será que só os meus filhos...), mas ao ouvir meu espanto, vieram ao meu auxílio.

"Deve ser falsificado e de Hong Kong, onde não se usa o sistema métrico", disse um deles.

"Pai, faz tanto tempo que você aprendeu trigonometria. Convenhamos, tudo muda...", falou o outro filho.

"Pai, trabalhe com ângulos menores. É você quem está exagerando no tamanho dos ângulos", disse o formando em Direito.

Fiquei a pensar. O tempo passa e temos que nos adaptar a eles. Só uma pessoa me deu outra opinião: "Qual medida de ângulos você usou? Não seriam grados?"

Apelo a meus leitores. Qual a verdade?

 

(*) Manoel Henrique Campos Botelho é engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP e autor de diversos livros, entre eles, o "Concreto Armado - Eu Te Amo".

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