Ensinar a compreender

Na Era da Informação, o desafio é ter um desempenho flexível com os conteúdos adquiridos ou que estão ao alcance de um clique

Adriana Garcia (*)

Houve um tempo em que a sabedoria de uma pessoa era medida pela quantidade de informações que ela conseguia reter na memória. Nosso cérebro foi o primeiro hard disk da história. Hoje, no entanto, diante da memória de um simples celular, essa magnífica capacidade de nosso cérebro parece redundante.

Infinitas possibilidades se abrem mediante alguns cliques e nos deparamos com outra limitação, gerada pelo modelo tradicional de aprendizagem, de viés conteudista e alicerçado na chamada “decoreba”. Pois se na aurora do ensino formal havia uma aglutinação dos saberes, sua crescente complexidade resultou em um nível de fragmentação que dificulta o desempenho flexível dos alunos com o conhecimento adquirido. Por consequência, hoje vivenciamos a dificuldade de estabelecer interrelações entre as disciplinas e enxergar que vários conteúdos e temas curriculares podem constituir uma mesma área do conhecimento.

As escolas são o palco onde está acontecendo o desafio de inverter, na prática, a direção seguida pela educação ao longo de sua trajetória histórica.  É nelas que as diretrizes de ensino estabelecidas pelo Governo aterrisam e se materializam. Porém, estabelecimentos de ensino têm projetos pedagógicos, missão, visão e metas específicas. A construção desse novo caminho, portanto, pode incluir inúmeros elementos fundantes e balizadores.

Um deles é o Ensino para a Compreensão (EpC), que já começa a ser utilizado por algumas escolas. Ele é um marco conceitual desenvolvido a partir de pesquisas e práticas pedagógicas de educadores do Programa de Formação de Professores da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que permite aos professores repensarem conteúdos a partir da ideia de “desempenhos de compreensão”, que auxiliam na aproximação entre teoria e prática, favorecendo o desempenho flexível do aluno com os conhecimentos que possui.

O EpC espelha a consciência de que a integração, a unidade, o pensamento complexo e o enfoque globalizador são os desafios da discussão sobre o currículo hoje. Pois são os conteúdos que concretizam o projeto educativo de uma organização escolar e são eles que definem a função social que a escola efetivamente exerce com seu ensino. 

O EpC chegou ao Brasil pelo ensino superior, mas já alcança os ensinos básico, fundamental e médio em instituições comprometidas com a reinvenção da escola e com a criação de novos tempos e espaços de formação e outras formas de organização do trabalho, formatos e tratamentos do saber que não sejam apenas a disciplina. Essa nova visão torna o material didático uma referência e não a finalidade do ensino: recursos como tablets, mesas educacionais, lousa interativa, laboratórios e livros são diferenciais para levar as aulas para o dia a dia dos alunos, criando oportunidades para a construção de conceitos, procedimentos, valores e atitudes. Nesta proposta sociointeracionista, o aluno também é protagonista e participa ativamente do processo de construção do conhecimento.

Proporcionar aprendizagens significativas, desenvolvendo as diversas formas de linguagem, investigação e interação, é fundamental para formação de um eterno aprendente, responsável pela sua história e pelo seu tempo.

(*) Adriana Garcia é diretora do Colégio Doze de Outubro.

 

Adicionar comentário


Conteúdo Relacionado