Ganância de felicidade, por que temos tantos desejos?

Muitas realizações: há necessidade real disso?

Alvaro Fernando (*)

O primeiro mês de 2016 está encerrado e você ainda se lembra dos desejos de começo de ano? Anestesiada a excitação da virada, como ficaram registradas em você todas aquelas mensagens recebidas? Compartilho algumas que recebi por WhatsApp: “que todos os desejos sejam realizados”, “um lindo e alegre ciclo de vida”, “todo o sucesso do mundo”, “que cada vez mais seus sonhos venham a se realizar” e “saúde, paz, dinheiro, música, viagens e tudo de melhor”, entre outras.

Tenho um querido amigo que sempre me lembra a “equação” da felicidade: ela é a realidade subtraída da expectativa. Quando temos uma expectativa baixa, aumentamos a chance de nos satisfazermos com aquilo que encontramos. Uma percepção sábia sobre a vida!

Essa adoração por “realizar os sonhos” em profusão, sentindo desejos que se transformam em realidade de forma sequencial e inesgotável, nunca foi uma boa pedida. A bem da verdade é que isso remonta ao processo de ganância que vivemos mundialmente na questão material – capaz de contaminar nossos conceitos de realização. Queremos uma vida repleta de felicidade.

Tenho notado essa busca por aqueles que já possuem tudo para serem felizes, mas não percebem ou assumem isso. Sempre falta algo. Responda a duas perguntas: o que você precisa para ser feliz? Quando isso vai acontecer? Talvez perceba que não precisa de mais nada, precisa apenas mudar do modo “falta algo” para o modo “aproveitar”.

As pessoas precisam “aceitar” que são felizes. Olhar no espelho e perguntar “o que mais eu posso querer para ser feliz?”. Note que você já tem tudo e mais um pouco. Perceber uma vida abundante é o que te move a agir livremente e, em grande parte dos casos, olhar em volta e ajudar os outros. A adesão a trabalhos voluntários é uma tendência mundial, as pessoas fazem isso porque ajudar traz uma sensação de pertencimento e completude.

Para isso, é preciso que se abandone a ideia ultrapassada do “tudo de melhor” e “todo sucesso do mundo”. Esse caminho nos leva à ganância de felicidade, um sentimento de sofrimento e busca incessante do inalcançável - cuja consequência é a desvalorização daquilo que já somos.

Talvez você não precise conquistar tanto assim, não é mesmo? O ano só está começando, pense em aproveitar o tempo que é seu grande tesouro, sair da correria, desfrutar da intimidade dos amigos, acabar com a inibição de sentir-se livre e celebrar o seu contentamento. Você chegará a 2018 dizendo: que pena que 2017 já acabou!

(*) Alvaro Fernando é autor do livro “Comunicação e Persuasão – O Poder do Diálogo”, no qual demonstra a importância comunicacional de virtudes como propósito de vida, altruísmo e generosidade. Fernando é premiadíssimo compositor de trilha sonora, vencedor de três leões em Cannes, duas medalhas em New York Festival e três estatuetas no London Festival. Há mais de 25 anos no mercado, atua com os principais anunciantes dentro e fora do país. Desde 2013, atua como palestrante e consultor sobre comunicação.

 http://www.alvarofernando.com.br/

 

 

 

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