Professores, diretores e jornalistas debatem problemas e soluções para a educação no País
Na noite de autógrafos, professores, estudantes, educadores e jornalistas debateram a situação da educação infantil e superior no Brasil, exemplos de superação no exterior, problemas curriculares da classe docente, além de lançarem um olhar do panorama educacional para um futuro próximo.
A mesa de debates foi composta pelo editor do Jornal O Estado de S. Paulo, João Bosco Rabello; Jadyr Pavão, editor de Educação do Portal Veja; Thaís Bilenky, repórter de Educação do Jornal Folha de S. Paulo; Carolina da Costa, diretora de graduação do Insper; Marcos Lisboa, diretor vice-presidente do Insper; com mediação de Norman Gall, do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial.
Dentre vários assuntos abordados, alguns estão bastante em voga na sociedade, como as quotas étnicas concedidas em universidades e escolas; a qualidade dos novos professores que chegam ao mercado; a elitização da classe discente e o processo de igualdade nas universidades; da disputa do professor com a internet e as redes sociais pela atenção dos alunos; além dos salários dos profissionais da Educação.
No debate, levantou-se a questão dos recursos financeiros dados à educação, ao que o autor replicou.
“No Brasil dos anos de 1970, houve uma explosão demográfica de modelos e criação de unidades de ensino em todo o País, mas sem se preocupar com a qualidade. O brasileiro, em geral, cobra dos governos coisas básicas para a sua vida, como segurança, melhor economia, salários maiores, alimentação e habitação. Por isso, a educação de seus filhos deixa de ser uma prioridade, não que deixe de ser uma necessidade urgente. Costumo afirmar que gastamos muito e mal, e o Governo Federal intenciona pôr mais dinheiro do PIB na Educação. Se assim o fizer, do jeito que está hoje, vai gastar muito mal. É preciso eliminar os erros, porque se põe dinheiro em um lugar, faltará em outro. Nesse caso, se houver mais dinheiro para os professores aposentados, faltará para os da ativa e vice-versa, por exemplo. Dinheiro investido apenas em salários não resolve a qualidade de ensino”.
Para o professor, não é difícil tentar fazer uma projeção dos novos adultos no Brasil.
“O que me preocupa é que a Educação nunca foi igualitária, e isso é uma questão tanto cultural como de berço. Quem nasce com condições, quase sempre chegará na frente no mercado de trabalho. Isso é óbvio, pois teve tempo para estudar, viajar, fazer cursos, enfim, para se preparar para o mundo profissional. Considero o ensino médio o Exterminador do Futuro do Brasil; é necessário uma reforma de como se faz o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), pois ele é quem determina o gargalo de quem vai para a frente e para trás neste País. Já vi muitos adultos de hoje que não se animam a ler um livro de apenas 30 páginas. Os valores mudaram muito, o conhecimento clássico, de estudar através dos livros e debates com professores e com pesquisadores que vieram antes de nós parece perdido, os jovens de hoje buscam tudo na internet. Não sou contra as novas tecnologias, mas o professor de hoje disputa espaço de atenção de seu aluno que não desgruda de um tablet, de um celular ou smartphone”, concluiu o professor João Batista Araujo.
Na ocasião o Professornews entrevistou João Bosco Rabello, editor do Jornal O Estado de S. Paulo.
Professornews: O senhor acredita que o sistema de quotas é eficaz para a melhora da Educação no Brasil?
Professornews: Mesmo em se tratando de estudantes mais qualificados, como o senhor vê, em média, os novos jornalistas que chegam ao mercado? Os de hoje estão mais bem preparados dos que o da sua época de faculdade?
João Bosco Rabello: Não, em absoluto. Os jornalistas da minha juventude eram muito mais preparados. Naquela época, nós líamos mais livros, vivenciávamos mais o fato, estávamos perto o suficiente para apurarmos notícias, sem contar que tínhamos uma visão mais ampla de cultura geral. Existem, é claro, muitas exceções. Conheço pessoas inteligentíssimas de várias áreas, sem curso superior, que são extremamente competentes, dominam outros idiomas, mas que dominam apenas suas áreas. Se lutamos por oportunidades educacionais igualitárias e expansão do conhecimento, é preciso que todos tenham acesso, e não apenas alguns.
Sobre o autor
João Batista Araujo e Oliveira foi secretário-executivo do MEC, professor no Brasil e em universidades no exterior e, como funcionário do Banco Mundial, em Washington, e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, atuou durante 20 anos como consultor de projetos da área de educação em mais de 60 países. Autor de cerca de 30 livros (entre os quais Pedagogia do Sucesso) e dezenas de artigos científicos, João Batista Oliveira é fundador e presidente do Instituto Alfa e Beto (IAB), organização não governamental criada em 2006 para atuar junto a redes públicas de ensino com foco inicial em promover a efetiva alfabetização das crianças, maior problema da educação brasileira, e programas dirigidos aos anos iniciais e à pré-escola.
Fotos e texto: Alexandre César