Professores de economia internacional publicam o livro Integração Econômica Regional

Autores comentam sobre os blocos econômicos mundiais e aspectos do Brasil no exterior

silvio miyazaki 1Na última quinta-feira (3), a Editora Saraiva lançou o livro Integração Econômica Regional (Silvio Yoshiro Mizuguchi Miyazaki e Antonio Carlos Alves dos Santos (org.) – Editora Saraiva, 1ª edição, 2013, 212 p. R$ 49,00) na Livraria Saraiva Shopping Paulista, em São Paulo.

Dezenas de pessoas ignoraram a chuva que caiu durante todo o dia na capital paulista, para comparecer à noite de autógrafos.

“Só temos a agradecer à Editora Saraiva e a presença dos amigos que vieram nos prestigiar esta noite”, disse um dos autores, o professor Silvio Miyazaki.

A obra aborda os blocos econômicos existentes no mundo com ênfase na análise econômica e é direcionada para uso acadêmico. O livro está dividido em quatro partes: Europa, Américas, Ásia e África e, dessa forma, foram estudados não somente os blocos econômicos mais conhecidos, tais como Mercosul, a União Europeia e o Nafta, mas também outros, como a CAN e a EFTA.

Os blocos econômicos menos conhecidos também são discutidos, tais como a Asean e a SAARC da Ásia e os diversos arranjos econômicos institucionais da África, importantes para a diversificação dos mercados na inserção econômica internacional do Brasil.

Durante o evento, os autores conversaram com o Portal Professornews.

Professornews: Basicamente, o que traz o livro?

Silvio Miyazaki: Procuramos fazer uma análise dos principais blocos econômicos do mundo, como a União Europeia, o Mercosul, o Nafta, e também os menos conhecidos do mundo ocidental, como o Asean, dos dez países do Sudeste Asiático.

Professornews: O senhor acredita que o fato de Vietnã e Laos serem de governos comunistas seja um entrave para o sucesso do Asean?

Silvio Miyazaki: Não vejo como. Esses dois países são únicos com esse sistema de governo no Sudeste do continente, e os acordos comerciais desse bloco devem entrar em vigor em 2015. A estimativa é que daqui a dois anos esses países consigam firmar o acordo de livre comércio entre nações capitalistas e comunistas.

Professornews: Ainda sobre política, o senhor comentou, em uma recente entrevista ao Professornews, que alguns governos podem gerar problemas nos blocos econômicos de que participam, por exemplo, no caso da Argentina em relação ao Brasil, que dificulta o desenvolvimento do Mercosul. Como isso se deu?

Silvio Miyazaki: A Argentina passou a ter déficit comercial quando o Brasil passou a exportar mais do que ela, mais do que a Venezuela e outros vizinhos. Por conta disso, alguns países começaram a fazer restrições aos produtos brasileiros. No final, o Mercosul acabou não dando o resultado esperado aos países-membros.

Professornews: Quando o Brasil teve suas refinarias expropriadas pela Bolívia em 2006, uma das medidas esperadas era algum tipo de sanção ou até mesmo bloqueios comerciais contra a Bolívia. As grandes nações, quando passam por isso, não têm nenhum pudor em tomar tais atitudes. Por que o Brasil não fez o mesmo?

Silvio Miyazaki: Na minha visão, o Governo brasileiro, o Itamaraty, almeja uma cadeira permanente na ONU; por isso, não tomou uma medida mais drástica. E a política externa brasileira não tem a tradição de brigar com os países vizinhos, mesmo que ocorram prejuízos econômicos. Uma intervenção econômica ou militar de nossa parte não seria bem recebida pela ONU.

Professornews: Falando agora sobre nossa economia interna, o Brasil é um país que, culturalmente, tem o hábito de aumentar os valores de serviços prestados pelo Governo, como o transporte. O mesmo acontece nos preços de bens de primeira necessidade, e nunca o contrário, mesmo com a moeda estabilizada. Por quê?

Silvio Miyazaki: Essa é uma situação bem complicada. Muitos aumentos originam-se em função dos mercados nacionais e internacionais e uma forma de manter os serviços governamentais funcionando é com o aumento nos preços dos serviços e cobranças de taxas e impostos, já que esses serviços não podem ser importados, tais como os alimentos e remédios.

O Professor Antonio Carlos dos Santos, que é um profundo conhecedor da economia africana, completou a nossa entrevista.

Professornews: Como o senhor enxerga o crescimento econômico do continente africano? Há uma enorme disparidade entre a África Negra e a África Muçulmana?

silvio miyazaki antonio carlos2Antonio Carlos dos Santos: É bom que se diga que não podemos fazer uma comparação entre religiões para definir a África Subsaariana (negra) e o Sul da África, dos países islâmicos. Vejo a África como a ‘última fronteira’, com ótimas taxas de crescimento, mas, infelizmente, alguns países ainda estão em situação precária economicamente.

Professornews: Como tem andado as relações comerciais entre Brasil e o continente africano?

Antonio Carlos dos Santos: Uma área de grande interesse dos africanos para com o Brasil é de tecnologia agrícola, já que nosso país é um dos melhores nesse quesito. O interesse maior parte daqueles países que foram colônias portuguesas e inglesas, que não precisarão importar alimento, se puderem cultivar em seu próprio solo.

Professornews: Com o aumento econômico na África, o senhor vê vantagens dos acadêmicos brasileiros fazerem um intercâmbio de pós-graduação por lá?

Antonio Carlos dos Santos: Apenas se a África for o objeto de estudo. Não vejo motivos para escolher a África como ponto de estudos. Agora, se o estudo for de valor antropológico, histórico, cultural, linguístico e econômico, acho totalmente válido. O Brasil tem enorme interesse na África, até por conta do passado comum, pois os dois foram colônias de países europeus. Os hábitos populares são parecidos em vários aspectos, com alguns países de lá falando o português e grande parte de nossa culinária é de herança africana.

Leia também: Especialistas em economia internacional analisam blocos econômicos

Fotos e reportagem: Alexandre César

Adicionar comentário


Conteúdo Relacionado