Como a morte é encarada por diferentes culturas

Em alguns povos, o canibalismo não é para saciar a fome, mas sim para louvar o morto

Por Maria Helena Magalhães Sarmento Afonso (*)

maria helena afonso professoraAo ler esta matéria, certamente, muitas pessoas irão pensar: "que tema mais estranho e macabro!" Morte e cultura? Morte é morte e mais nada, a não ser tristeza.

Realmente, a morte é um tema considerado tabu na cultura ocidental, principalmente na nossa, a latina. Falar sobre ela provoca certo desconforto, pois damos de cara com uma finitude, o inevitável, a certeza de que um dia a vida chega ao fim.

Todos nós possuímos uma herança cultural que define a nossa visão dessa passagem, sendo que as nossas interpretações atuais sobre a morte constituem parte da herança que as gerações anteriores, as antigas culturas, nos deixaram.

A visão da morte ao longo do tempo, e a construção da sua própria identidade coletiva constitui um dos elementos mais relevantes para a formação de uma tradição cultural comum.

A morte sempre exerceu uma atração, medo e fascínio nos seres humanos. Lembro-me de ter lido uma vez algo sobre isso em uma parábola chinesa: “A cobra procura fixar o olhar do pássaro antes de atacar. Nesse instante, ao olharem um para o outro, cada qual aceita o seu papel: predador e presa. O medo gera a vítima. Mas alguma coisa na ave faz com que procure o olhar da cobra: o fascínio pela morte.” Os extremos tocam-se… ou sobrepõem-se.

É difícil aceitarmos que o ser humano goste de ver a morte. Parece algo bem estranho, pois temos medo dela. Assim como há um gosto ainda bastante comum em caçar, matar e tirar a vida, que pode ser considerado como uma forma de se ver a morte através do outro. Poderia ser uma maneira de exorcizá-la ou de quase a sentir, sem morrer, de lhe tocar, sem ela nos envolver e percebendo que, enquanto acontece ao outro não acontece a mim. Pode haver também uma sensação de poder ou controle sobre o outro, pelo medo que se lhe gera.

A maneira como nós lamentamos a morte, comemoramos, e dispomos dos cadáveres varia enormemente de cultura para cultura. O que para um determinado grupo é considerado normal, para outro, pode ser compreendido como estranho, bizarro e perturbador.

Cada cultura considera os seus costumes como algo normal e certo, e quando descobrimos algumas tradições funerárias de outros que podem ser consideradas macabras, ficamos espantados e por vezes até assustados. O intuito do nosso artigo é discorrer sobre alguns rituais de morte e sepultamento-inumação conhecidos e desconhecidos, alguns deles, praticados até recentemente ou ainda realizados em segredo.

Um desses rituais que podemos considerar muito bizarro é chamado de endocanibalismo, que,de acordo com Rogerio Sidaoui, no seu livro Curiosidades Históricas da Editora IBRASA, refere-se a algumas práticas promovidas por tribos indígenas, principalmente as mais antigas que habitam o continente americano desde períodos pré-históricos.

Segundo ele, muitas dessas tribos não praticavam o canibalismo como conhecemos; no entanto, por questões religiosas, o endocanibalismo era aceito como algo normal. Quando alguém da mesma tribo morria, para que seu espírito permanecesse entre eles, tinha seus ossos torrados e moídos e, posteriormente, misturado a um purê de banana. Este estranho prato era servido a todos os membros da tribo em meio a um ritual fúnebre. Assim, acreditavam eles, ou melhor, acreditam (pois essa prática ainda é utilizada) que o espírito do morto permanecerá na tribo, e sua coragem e sabedoria trará grande fartura para o povo.

O endocanibalismo não tem a violência do canibalismo, pois não ocorre para saciar a fome, mas sim para saciar o espírito e louvar o morto.

Para outras culturas, a melhor maneira de honrar seus mortos é levando em si mesmo uma parte deles. E a maneira mais correta de fazê-lo, é comendo-os. Essa prática é reconhecida pelos antropólogos como um ritual amplamente difundido em certas culturas consideradas primitivas. Segundo os pesquisadores, esses “banquetes de cadáveres” são uma maneira de firmar uma conexão permanente entre os vivos e aqueles que partiram.

O artigo completo pode ser lido no seguinte link: http://www.indikabem.com.br/cultura/ampliando-horizontes-ritos-de-passagem-como-a-morte-e-vista-por-diferentes-culturas.

 

(*) Maria Helena Magalhães Sarmento Afonso é mestre em Comunicação, com pós-graduação em Sucesso Empresarial e Marketing Internacional e cursos de extensão em Marketing e Comércio Exterior na FGV. Coach certificada pela Integrated Coaching Institute. Diversos cursos no exterior sobre temas internacionais e interculturais. Palestrante internacional, professora de pós-graduação da Universidade Mackenzie e diretora da DBI Foreign Trade.

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