Especialistas em economia internacional analisam blocos econômicos

Integração econômica regional é um processo irreversível

silvio miyazakiO Brasil parecia estar imune à crise econômica mundial que teve seu pico em 2008 e 2009 e que parece estar longe de terminar. Porém, seu efeitos já estão sendo sentidos também por aqui, pois a economia é globalizada.

Neste momento oportuno, dois ilustres professores de economia internacional escreveram, com a ajuda de outros especialistas, um livro que analisa e explica os blocos econômicos, como a União Europeia e o Mercosul.

A Equipe Professornews conversou com os professores Silvio Miyazaki (*) e Antonio Carlos Alves dos Santos (**) sobre a posição do Brasil no cenário econômico mundial.

Professornews. Mesmo apresentando graves problemas econômicos entre os países-membros, como é o caso da Grécia, Portugal e Espanha, a União Europeia está aumentando o número de seus participantes, com países que pertenciam à extinta União Soviética. Em sua opinião de economista internacional, esse é um processo irreversível?

Professor Alves dos Santos. Sim, é um processo irreversível, porque ele é essencialmente um projeto político pensado para evitar a repetição de tragédias europeias do Século XX. Por ser um projeto político, medidas econômicas necessárias acabaram sendo deixadas em segundo plano e países com conhecidas fragilidades econômicas, como é o caso da Grécia e Portugal, acabaram sendo aceitos na Zona do Euro. Infelizmente, o custo econômico de excluí-los é muito alto para eles e para os demais países da Zona do Euro.

Professornews. Por que o Mercosul, do qual o Brasil é um dos países-membros mais importantes, não está dando certo? O que precisaria ser feito para deslanchar a economia desse bloco econômico?

Professor Alves dos Santos. O projeto do Mercosul era muito ambicioso e por isso os resultados alcançados estão bem abaixo do esperado; no entanto, estão longe de serem desprezíveis, se lembrarmos dos ganhos no comércio interno do bloco. A política argentina é hoje o maior empecilho ao Mercosul, por impedir negociações de acordos de livre comércio como é o caso do acordo com a União Europeia. Sem uma solução para esse problema, o Mercosul corre o risco de tornar-se um estorvo à inserção internacional da economia brasileira.

Professornews. Os blocos econômicos do Sudeste Asiático não são muito conhecidos de nós brasileiros. Isso é porque cada um dos países, como o Japão, Coreia do Sul e China, não precisam de alianças comerciais e econômicas entre eles? Ou seriam em função de divergências entre seus povos?

Professor Miyazaki. Creio que os brasileiros em geral ainda não perceberam o potencial econômico do Sudeste Asiático. Sobre o Japão, Coreia do Sul e China, na verdade, há conversações entre esses países para firmar um acordo comercial entre os três, assim como um mais amplo, incluindo as dez nações do Sudeste Asiático.

Professornews. É possível o Brasil partir da NAFTA (North American Free Trade Agreement - Tratado de Livre Comércio da América do Norte), do qual o Chile, que fica no extremo sul do nosso continente, participa como associado? Nesse caso, o que o Brasil ganharia?

Professor Miyazaki. Será difícil o Brasil associar-se à NAFTA, principalmente por questões político-ideológicas do atual governo ou mesmo do Itamaraty. O Chile tem sido um dos países mais dinâmicos em firmar acordos de livre comércio, mas é preciso lembrar que há bastante dependência do cobre nas suas exportações.

Professornews. O euro é a moeda corrente em todos os países-membros da Zona do Euro (União Europeia, exceto o Reino Unido). Para ocorrer essa padronização de moedas também no Mercosul, o que seria necessário?

Professor Alves dos Santos. O Mercosul ainda é, no máximo, uma União Aduaneira imperfeita e, por isso, é prematuro falar em moeda comum para o bloco. Para não repetir os mesmos erros da experiência europeia, é necessário melhor a coordenação macroeconômica entre os países-membros do bloco e isso, no momento, não é viável econômica ou politicamente. É necessário repensar o projeto do Mercosul e trabalhar com metas mais realistas.

Professornews. Ouve-se falar que a China caminha ao lado dos Estados Unidos como a maior economia do mundo. Para um país com economia tão forte, como se explica que na maior parte do território chinês encontram-se problemas comuns de países não desenvolvidos, como: miséria, alto número de analfabetos, falta de saneamento básico, estradas precárias?

Professor Miyazaki. Deve-se analisar com cuidado, ao comparar economias. Assim, é preciso verificar não somente em termos do PIB, mas também o PIB per capita e o Índice de Desenvolvimento Humano. A China é um país que precisa ser melhor estudado aqui, pois somente são destacados os pontos positivos de crescimento econômico e do tamanho da sua economia. O crescimento da economia não se difundiu para as áreas remotas, e a sua população é a maior do planeta e talvez tenha tido até uma concentração da renda no país.

Professornews. Nas últimas duas décadas, o Brasil gozou de certa estabilidade econômica. O senhor acredita que, um dia, o País poderá chegar a disputar ombro a ombro com as principais potências econômicas o controle financeiro mundial?

Professor Alves dos Santos. Acho pouco provável, já que a concorrência por um lugar ao sol nas relações econômicas internacionais é muito forte. O Brasil poderá, no melhor cenário, exercer influência crescente, mas dentro dos limites impostos a um país que é parte do quintal dos Estados Unidos

O Professor Alves dos Santos completa a entrevista com seus conhecimentos sobre a África: "A África é um continente que oferece grandes oportunidades no campo econômico e político ao Brasil. As empresas brasileiras têm adotado práticas que são bem aceitas pelas comunidades locais, como, por exemplo, a contratação, sempre que possível, da mão de obra local. O Governo brasileiro tem adotado políticas visando aumentar as parceiras com países africanos, mas, infelizmente, o volume de recursos disponíveis ainda é insuficiente, o que torna difícil competir com China, que é um dos mais importantes players no continente africano. Dado que a África é a última fronteira e que tem apresentado ótimas taxas de crescimento econômico nos últimos anos, deverá continuar a atrair atenção das principais potências econômicas, principalmente da China".

(*) Silvio Yoshiro Mizuguchi Miyazaki é professor da Universidade de São Paulo (USP). É doutor em Economia e mestre em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV -SP) e graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo (USP) e em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP).

(**) Antonio Carlos Alves dos Santos é professor da PUC-SP. É doutor e mestre em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP) e graduado em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

interacao economicaOs Professores Silvio Miyazaki e Antonio Carlos Alves dos Santos são autores e organizadores do livro Integração Econômica Regional publicado pela Editora Saraiva. Conheça a sinopse dessa obra acadêmica na Biblioteca do Professornews.

Conheça outros autores do livro.

Cristina Helena Pinto de Mello é Professora da PUC-SP, ESPM e IICS.

Leonardo Baptista Correia é Professor da PUC-SP.

Luiz Moraes de Niemeyer é Professor da PUC-SP e Facamp.

Maria Antonieta Del Tedesco Lins é Professora da USP.

Mayla Pereira Costa possui formação em diplomacia corporativa pela FAAP.

Paulo Fernandes Baia é Professor da PUC-SP.

Sérgio Goldbaum é Professor da FGV e ESPM.

Victor Nóbrega Luccas é bacharel em Direito pela FGV e mestrando em Direito pela USP.

 

Comentários   

0 # Rafael João Dias 19-09-2014 10:10
Rafael, mestrando em economia politica na PUC-Sp. O tema da dissertação é sobre a integração econômica regional principalmente, os blocos econômicos formados nos países africanos, tipo UEMOA que é união econômica e monetária do oeste africano. Embora alguns autores brasileiros tratem desses blocos africanos mas, muito pouco mesmo (como o meu ex-prof. Silvio), vejo muitos relatórios do BNDES e algumas instituições publicas sobre esses blocos. Historicamente e culturalmente, o Brasil tem uma forte identificação com a África principalmente os países do PALOP, mas quem está tomar conta desses mercados promissores é a China. Eu gostaria de entender um pouco por parte do prof. Silvio, o Brasil não tem nada a ganhar com esses mercados?
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0 # Silvio Miyazaki 19-09-2014 17:57
O Itamaraty, há anos, faz esforços para aumentar os laços entre o Brasil e os países africanos de língua portuguesa.

Uma das ações se refere a aceitar alunos desses países na graduação e na pós-graduação em nossas instituições de ensino superior. Também houve um período em que empresas de construção civil brasileiras estavam com projetos nesses países.

Nesses mercados, uma inserção maior do Brasil seria interessante, pois uma primeira barreira, da língua, já está superada. Falta uma estratégia do governo brasileiro para promover mais as relações econômicas com esses países.
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