Uma revolução chamada ENEM

Enem inovou e trouxe a transversalidade e a interdisciplinaridade às provas

Gilberto Alvarez (*)

Gilberto giusepone retratoO Enem é hoje a principal forma de acesso dos estudantes ao ensino superior brasileiro. São 7,17 milhões de jovens que farão a prova este ano em busca de uma vaga nas principais universidades do país. De outro lado, muitas instituições substituíram o tradicional vestibular pelo exame e outras já o utilizam como parte do processo seletivo. Em 2012, pela primeira vez, todas as 59 universidades federais aderiram ao Enem, seja integral ou parcialmente.

Do ponto de vista do conteúdo, o Enem inovou e trouxe a transversalidade e a interdisciplinaridade às provas. Trata-se de um método para despertar no aluno a relação entre temas diversos, quebrando a visão fragmentada da realidade que as regras rígidas e estanques das disciplinas impunham aos alunos. O êxito dessa inovação vem motivando a discussão sobre a reforma curricular do ensino médio, de forma que esta esteja alinhada às novas exigências e, ao mesmo tempo, seja capaz de preparar os alunos para a prova.

Aliás, essa discussão sobre a reforma do currículo é bem antiga dentro do Ministério da Educação e Cultura (MEC) e foi retomada recentemente, depois da divulgação do baixo desempenho e da estagnação dos alunos do ensino médio no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011.

O que se pretende é um novo currículo que seja capaz de proporcionar uma formação diversificada, tendo como base as áreas de competência abordadas no exame: matemática e suas tecnologias; linguagens, códigos e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; ciências humanas e suas tecnologias.

Essa redefinição propõe um aluno mais atento, curioso, capaz de raciocinar e de interpretar. A transversalidade estimula o aluno a pensar, tirando-o do raciocínio limitado e condicionado. Conectar o aluno com as várias dimensões de um mesmo assunto proporciona uma visão panorâmica de como cada tema afeta os diferentes aspectos de nossas vidas e do dia a dia. O resultado esperado é tornar o aprendizado mais próximo da realidade, permitindo um maior entendimento, reflexão e fixação dos conteúdos.

A dinâmica dessa reforma estará na relação da educação com a tecnologia, visto que hoje os jovens estão conectados por seus celulares, tablets e computadores. O edital publicado pelo MEC sobre os livros didáticos, além de exigir a organização das disciplinas conforme o estabelecido pelo Enem, determina que as editoras apresentem obras com complementos digitais - e-books, jogos e aplicativos. Uma união que, além de despertar a curiosidade do aluno, trará a inovação por exercitar a criatividade e tornar o ensino médio mais atrativo.

Especializado em preparar jovens para o vestibular e para o mundo do trabalho, o Cursinho da Poli se antecipou a essa tendência e criou, em 2011, a disciplina Aprender a conhecer, que trabalha a interdisciplinaridade com os alunos. Aulas dinâmicas, com dois professores de diferentes matérias na mesma sala discutindo o assunto abordado por diferentes ângulos.

A educação caminha para um novo tempo no Brasil e muitos são os desafios para que essa mudança seja aplicada em 2014 e 2015. Mais importante que inserir esse novo conteúdo nas escolas é dar o apoio e o preparo necessários aos professores. O profissional precisa conhecer e entender o que será trabalhado, enxergar a necessidade de inovar a sala de aula e despertar o aluno para o conhecimento.

 

(*) Gilberto Alvarez Giusepone Jr. é especialista em Enem e diretor do Cursinho da Poli (SP).

 

Comentários   

0 # Antonio Domiciano 06-10-2013 11:39
Muito interessante a análise feita nesse artigo e espero que essa nova abordagem do ENEM (multi- e interdisciplinaridade) seja propagada na prática da cadeia abaixo da estrutura educacional (ensino médio e fundamental, ciclos finais, principalmente) e na formação dos docentes, como a teoria da ciência da educação prega, em oposição à abordagem fragmentada e de "decoreba" que se instalou nas escolas nas últimas décadas, fruto da influência dos cursinhos pré-vestibulares iniciada nos anos 70 e 80.
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