Dilema docente: o(a) aluno(a) se apaixonou por mim, e agora?

Professores relatam como superaram o assédio de seus alunos(as)

sal-de-aula2“...São Jorge ia prá lua lutar contra o dragão. São Jorge quase morria, mas eu lhe dava a mão. E voltava trazendo a moça com quem ia me casar. Era minha professora, que roubei do Rei Lear...”. Os versos da música Estampas Eucalol, do jornalista e compositor baiano Hélio Contreiras remete às lembranças de qualquer estudante que já se pegou suspirando pelo(a) seu(sua) professor(a).

Mas, da visão do docente que se vê “acuado” numa situação em que a admiração ultrapassa a barreira da ética estudantil e passa a ser literalmente um caso de assédio declarado por seu aluno, a realidade é bem diferente. Vez por outra, vemos na imprensa internacional algum escândalo com professores envolvidos em relações íntimas com seus alunos. E no Brasil?

O assunto é tabu em várias classes sociais e instituições de ensino. Por isso, o Professornews conversou com quatro professores*, dois de nível superior e outros dois do ensino médio, sobre suas experiências nessa questão.

Com 10 anos de andragogia, o "Professor A", de 39 anos, ensina Ciências Sociais numa das universidades mais conhecidas da Cidade de São Paulo, e garante que, a cada semestre, pelo menos oito alunas ficam apaixonadas por ele. O professor admite que o interesse despertado por suas alunas não deixa de envaidecê-lo, no entanto, garante que apenas mantém o relacionamento professor-aluno em quaisquer situações.

“Numa sala que tem de 30 a 60 alunos, o professor é o principal protagonista, por isso é fácil você se tornar alvo de admiração. Calculo que, por semestre, oito alunas tentam me seduzir, mas eu mantenho uma postura firme de distância e afirmo que sou muito bem casado, mas existem algumas que são insistentes. Eu tive uma aluna que se tornou inconveniente, pois me seguia, e também debruçava-se na minha mesa com um decote sinuoso. A situação começou a ficar complicada, até porque o noivo dela também era meu aluno. Consegui afastá-la depois tendo uma conversa séria. Não nego que às vezes é bom para o ego, pois é legal saber que você desperta atenção de alguém, mas fora o meu casamento, eu só perderia com isso. Poderia ser suspenso ou até mesmo perder o emprego”, disse o professor.

Mesmo mantendo a ética profissional, o "Professor A" não escapou de um golpe do destino: há alguns anos, começou um relacionamento com uma aluna, mas que hoje é sua esposa.

“Na minha antiga universidade, me apaixonei por uma das minhas alunas e posso dizer que foi paixão à primeira vista, para nós dois. Começamos a namorar, eu ainda sendo seu professor, e não estava preocupado com nada, porque por amor nós somos capazes de tudo. Hoje, ela leva numa boa as cantadas que recebo das alunas; ela sabe que eu não a trairia. Mas ela não deixa de levantar desconfianças contra as meninas mais atiradas. Digo isso porque ela costuma me acompanhar nas excursões da faculdade, e ela logo identifica as alunas que tentam se atirar para cima de mim. Depois, comentamos o fato com muitas risadas”, finalizou o professor.

Em certos casos, a admiração dos estudantes por professores não enxerga barreiras, como estado civil alheio, opção sexual ou até mesmo faixa etária. A professora de Turismo, "Professora B", de 59 anos, docente de uma das universidades mais conceituadas do Nordeste, contou que um de seus alunos tentou conquistá-la, mas o caso não se tornou um problema.

“Eu tinha um aluno que sempre me recebia na entrada da sala, e quando eu passava, ele dizia ‘Bom dia, flor; bom dia, amor...’”, algo assim. Eu achava uma graça, mas não tinha como termos algo: sou casada há mais de 30 anos, a diferença de idade é enorme. Isso sem falar que eu tenho dois filhos mais velhos que ele. Um dia, apliquei uma prova, e no meio delas, encontrei uma carta anônima em que o aluno se dizia apaixonado por mim, que só pensava em mim e mal prestava atenção às aulas. Eu sei que era esse menino que me cumprimentava na entrada, porque a letra era parecida”, explicou a docente.

O nível de ética e moral de cada um é medida de acordo com valores pessoais e outras impostas pelas instituições em que o profissional trabalha. Para muitos, quando existe uma questão de assédio universitário, o que professores e alunos fazem longe do meio acadêmico é assunto particular deles, pois, geralmente, os alunos são maiores de idade e, como seus mestres, adultos. Mas e quando acontece numa escola de ensino fundamental, em que o professor, logicamente, é um adulto, e lida diariamente com estudantes, em sua maioria, menores de idade?

Para o "Professor C", de 27 anos, professor de História há dois anos da rede estadual de ensino, educar meninas, segundo ele, “borbulhando em hormônios”, é cada vez mais complicado para os professores.

“Olha, não dá para contar, muitas meninas me pedem em namoro. E vou te falar, muitas meninas parecem mulheres, são altas, com corpos desenvolvidos, lindas mesmo, parecem modelos, mas são crianças em corpos adultos, ainda não sabem o que estão fazendo. Acredito que, por ser educado e tratar muito bem meus alunos, algumas meninas se sentem mais à vontade e acabam confundindo as coisas. Mas o que eu acho desconfortável mesmo é quando eu as recuso e elas perguntam: ‘professor, o senhor não gosta de mulher’?”

Segundo o "Professor C", conforme as gerações da sociedade avançam, as estudantes tornam-se mais desinibidas.

“Existe, pelo menos em minhas turmas, uma menina por sala que me pede em namoro. Elas deixam telefone, escrevem bilhetes, tentam passar a mão e me pedem beijos, mas não quero nada com alunas. Engraçado: na minha época de estudante, não era assim. Reconheço que é bom para o ego, mas não quero passar disso. No ano passado, caí na tentação de namorar uma estudante da noite, maior de idade, e por conta disso, ela passou para o turno da manhã, se tornando minha aluna. Isso começou a me trazer complicações. Fui chamado para conversar com o vice-diretor, mas não tive problemas. O fato é que ficou uma situação chata, não queria que todos pensassem que eu a favoreceria de alguma forma, por isso, decidi terminar. Hoje, tenho convicção que não farei isso de novo”, prometeu.

Já a "Professora D", de 39 anos, diretora e professora da rede estadual de ensino de São Paulo há 20 anos, garante que sua postura profissional mantém uma distância longa entre seu trabalho e sua vida pessoal.

“Quando eu era apenas professora, e mais nova, tive alguns alunos que tentaram de tudo para me namorar, mas nunca dei brechas. Como diretora, imponho um respeito que não cabe qualquer tipo de gracinha. Mas uma vez, um aluno recebeu um estudante novo e me viram passando. Quando o aluno veterano disse que eu era a diretora, o novato exclamou alto o bastante para eu ouvir: ‘é a diretora mais linda que eu já vi’”, disse entre risos.

Para a diretora, seus problemas com alunos apaixonados aconteceram em demasia na época em que apenas era professora de Português.

“Eu tive um aluno que foi um problema; ele me esperava sair de casa e chegar de volta. Não sei como, mas conseguiu meu telefone e dizia que estava apaixonado, que passava horas suspirando por mim. E isso parecia ser verdade: eu o notava olhando para o vazio na sala de aula. Sempre tive problemas com homens mais novos. Só namoro homens da minha idade ou mais velhos, quanto mais namorar um aluno em relação ao qual tenho idade para ser mãe dele. Mas teve uma vez que eu menino lindo tentou me namorar, e ele era lindo mesmo, até fiquei balançada, mas o máximo que pensei foi: ‘Ah! Se eu tivesse 15 anos a menos’. Mas uma coisa eu recomendo a todo profissional da educação: mantenha sua vida pessoal longe da profissional; não deem pistas de endereços e principalmente telefones”, sentenciou a "Professora D".

*Os nomes dos entrevistados foram ocultados para preservar suas identidades.

Reportagem: Alexandre César de Melo

Comentários   

+2 # Thábata 10-09-2013 10:05
Também sou professora, tenho 24 anos e tenho um aluno de 22 anos que se diz apaixonado por mim. Eu já conversei com ele pedi pra não mandar mais mensagens, pois não haverá nada entre nós, vou esperar pra ver se ele vai me deixar em paz. Antes disso conversei com a vice diretora da escola e ela sugeriu que eu conversasse com ele e foi o que fiz, mas agora estou sentindo que estou começando a gostar dele, não sei o que fazer. Ele é lindo. Gostaria de saber a opinião de algumas pessoas.

N.R.: O nome da depoente (acima) foi trocada, para preservar sua identidade.
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0 # Kamila 18-09-2013 10:25
Cara colega,
Eu também passei por essa experiência e posso afirmar que não foi fácil. No meu caso, eu sou casada (bem-casada, aliás)e tenho um filhinho lindo.
Ignorei o que o meu aluno dizia e alguns meses depois ele já arrumou uma namoradinha.
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0 # Ronaldo Nunes 30-01-2014 10:38
Professora, parabéns! A melhor atitude é ignorar e manter a direção escolar informada do assédio como medida de segurança, em sigilo.
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0 # Ronaldo Nunes 30-01-2014 09:59
Professora, não se envolva emocionalmente com alunos. Passeie, saia de casa e divirta-se com pessoas que não sejam seus alunos, faça parte de um grupo de amigos sem alunos envolvidos. Nossa atenção geralmente não é entendida por nossos alunos e você é muito jovem, tem toda uma vida pela frente. Não se iluda com a beleza do aluno, naturalmente você será uma conquista valiosa para a reputação dele entre os colegas. Aluno não! Vá por mim. Um abraço.
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0 # Carla 10-03-2014 18:53
Sou professora, tenho 32 anos e venho sendo assediada por um aluno de 18 anos que é bem charmosinho, tento manter a distância e o pior que estou me sentindo atraída por ele também e não quero ficar com ele agora, o que eu faço? E eu ainda moro numa cidade pequena!!!É a primeira vez que isso vem me acontecendo!
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0 # Tarcísio Perez 26-03-2014 13:07
Minha filha, saia dessa!

A diferença de idade é muito grande e não é só isso. A relação é entre aluno e professora.

Com raras exceções, a atração que você está sentindo é temporária; talvez, mais curiosidade do que outra coisa.

Durma tranquila, principalmente em cidade pequena onde você mora.
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0 # lucas 10-07-2014 21:10
É,esta é uma questão muito delicada,por um lado a ousadia dos jovens,do outro a insegurança dos professores,tenho 15 anos e tenho uma professora de 33 anos,as vezes me deparo pensando e vejo que é uma coisa praticamente impossivel,mantenho um amor platônico por ela,mais so quem ja foi apaixonado por uma professora de vdd sabe como é sofrido
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0 # Luidi 13-04-2015 09:54
Pois é, sei como é.
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0 # Gabis 07-11-2014 00:29
Exatamente, só quem já se apaixonou por uma professora sabe como é sofrido. Isso acontece comigo há 6 anos, estava na setima serie e agora estou na faculdade, com o mesmo amor e na mesma intesidade. Ela era um sonho pra mim, do qual corri atras e hoje mantemos a amizade, eu levo a vida assim, as vezes agradeço a Deus por me dar um presente desses, amar a pessoa independente da idade do sexo ou de qualquer coisa, isso é raridade e o melhor sentimento do mundo, mas também o pior, quando tenho que cair na real e encarar o mundo.
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0 # Cari 05-12-2014 07:19
Existe alo que impeça um professor ter um relacionamento com uma aluna da universidade? Alguma lei que o faça ter que abdicar o trabalho por ser algo proibido?
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0 # CaSM 03-02-2015 04:41
Eu acho essas opiniões de ser algo errado extremamente absurdas, afinal, cada um sabe o que quer e o que deseja para sí. Tenho em mente que alunos do ensino médio que tenham lá a faixa dos 18 anos já entendem o que querem ou não.
Me formei em 2014 no ensino médio, e no ultimo ano conheci um professor de história. Por eu querer fazer história nós ficamos muito próximos e eu me apaixonei por ele... Após perceber que era um sentimento recíproco decidi esperar até eu me formar para que não causasse algum tipo de problema para ele na escola. No dia da formatura disse aos meus pais que dormiria fora, e fui pra casa dele... desde então começamos a sair sempre, e mesmo ele tendo 43 e eu 17 eu acredito que haja amor. O amor não tem idade pra acontecer... Somos companheiros e somos fortes pra lidar com quaisquer opinião.

Acho que as pessoas tem que ser mais decididas, e parar de tomar suas atitudes de maneira que não lhe agrade parase encaixe na sociedade.
Vocês tem que ser felizes, independente da opinião alheia.

:*
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+1 # OluaS 23-03-2015 14:27
Igual disseram acima. Chega um momento que as alunas cobram e sempre jogam baixo dizendo que devo ser gay e coisas do tipo, mesmo assim não me deixo abalar e digo que isso diz respeito a mim e dentro da sala de aula sou Professor e não conselheiro ou símbolo sexual. Mesmo assim confesso que é difícil se conter, ainda mais alguém solteiro e que é bem caseiro, consequentemente complicado conseguir um namoro.. Mas jogo duro comigo e no máximo sairia quando acabassem os estudos..mas bem sei que são ''fogo de palha'' e é mais uma maneira de satisfazerem seus egos do tipo: "saí com o professor" e contar pras amigas, prevejo que entraria em uma espécie de "inferno" cheio de extorsões e jogos perigosos para o lado profissional.. Então prefiro negar mesmo sendo homem e ao lado de mocinhas lindas. Conheço professores que saem com alunas, um até se casou a alguns anosç.. Mas vai ver eles tem sorte de negociar ou mais experiência pra se sobre sair dos egos juvenis delas.
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+2 # Acadêmico Gaúcho 07-06-2015 16:16
Bom, tenho 30 anos, sou acadêmico e sou casado. Tenho uma professora maravilhosa de 32 anos. Ela é linda e inteligente, simpática e com gostos musicais refinados ao meu ponto de vista. Há muito que não me permitia olhar para outra mulher com outros olhos, pois minha esposa é realmente maravilhosa também. Porém, como todos os casamentos de longa duração, o meu chegou a um ponto que não consigo mais fazer minha esposa feliz e isso me deixa triste por nós dois. O fato é que não consigo disfarçar a admiração que sinto pela professora e acho que ela já percebeu isto. Só que não sou mais um adolescente impulsivo e conheço meus limites e os da ética profissional dos professores. Como proceder no meu caso? Sei que muitos vão me aconselhar a consertar o casamento e eu vos afirmo que tento isso há uns dois anos. Nunca fui infiel e jamais seria.
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0 # José carlos cristo 07-12-2015 01:44
Tenho uma dúvida sobre isso também, especialmente no aspecto legal! se você leciona em uma instituição, todo(a)s o(a)s aluno(a)s daquela instituição são também seus\suas aluno(a)s? Pois tenho colegas de profissão acadêmica que não namoram suas\seus aluna(o)s mas somente aplica essa regra nas disciplinas lecionadas por ela(e), mas se forem discentes para o(a)s quais ela(e) não leciona, ele(a) não vê problema algum , me pareceu coerente dado que o(a) mesmo(a) falou que se porventura ela(e) viesse a ser aluna(o) de alguma matéria dele(a), ele(a) pediria ao coordenador para trocar de matéria dada situação delicada para com a sala sem se expor muito. Até onde isso é legalmente correto? Namorar um(a) discente contanto que ela(e) não seja sua\seu aluno(a) mesmo ele(a) sendo da mesma instituição que o(a) docente leciona?

Fico no aguardo de uma elucidação sobre o tema...
Att,
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0 # Luciana Rosa 06-01-2016 16:56
Legalmente, se o aluno for maior de 18 anos não há restrição (desde que haja desejo das duas partes). Porém, há de se pensar que o professor, mesmo não lecionando para aquele estudante, representa uma figura de autoridade, de modo que uma relação aí pode ser extremamente danosa para o aluno.
Há de se questionar: este aluno realmente está atraído por mim ou pelo que eu represento para ele?
Mas há casos e casos, não existe receita pronta. Após a escola eu mesma saí com um professor meu.
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